sábado, 2 de agosto de 2008

Saindo

Moçada, estou desativando este blog...
Não, eu não cansei de ter um blog. Estou só mudando de endereço.
Se você faz parte da meia-dúzia (tudo isso?) que lê este blog, anote o novo endereço:
www.waltertierno.wordpress.com

A gente se vê por lá.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Perguntas e mais perguntas - 1

A dúvida do momento é a seguinte: o trânsito de São Paulo melhorou (um pouquinho) graças à restrição da circulação de caminhões e às férias escolares?
Pelo visto, só teremos a resposta em agosto...
Será que vão dizer que a culpa do trânsito reside nos ônibus, ciclistas e pedestres?

Enquanto isso, tem gente reclamando da tal "lei seca". Nesse caso, a pergunta mais importante é apenas esta: "Tá reclamando do quê, cachaceiro?"

domingo, 20 de julho de 2008

Batman


Não sou do tipo que idolatra um filme só por ser adaptação de história em quadrinhos. Minha tendência é concordar com Alan Moore, que se diz contrário às adaptações de suas obras (embora eu não acredite que ele é contrário a embolsar algum). Sem radicalismos, claro.
Já vi o trailer da adaptação de Watchmen e não me empolguei como a maioria dos nerds de plantão. Visualmente, o diretor está fazendo um trabalho excepcional. É o que ele fez em 300. Mas, como 300, vale lembrar que a qualidade visual foi sua única qualidade indiscutível. Todo o resto, desde a própria escolha do tema até os acréscimos que ele fez à história de Frank Miller, merecem críticas menos entusiastas.
Mas não é para falar sobre Watchmen que escrevo este post. Para saber minha opinião sobre essa incrível HQ, leia aqui: http://waltertierno.blogspot.com/2007/10/watchmen.html
Estou aqui para falar sobre Batman, o cavaleiro das trevas.
De longe, este é o melhor filme que já vi baseado num personagem dos quadrinhos. Digo isso porque não o considero uma adaptação, simplesmente. Ele merece o privilégio de ser considerado um bom FILME. Não, não é o melhor do ano, peço perdão aos nerds entusiasmados. Mas é muito bom. Enquanto Hulk e Homem de Ferro podem ser considerados boas adaptações de quadrinhos de super-heróis, Batman é uma peça que dispensa conhecimento prévio do personagem. Claro que você precisa assistir a Batman Begins, mas estamos falando de uma franquia independente, que não cobra o fardo de você ser um “iniciado” para entender o que diabos está acontecendo ali.
Esqueça aquela outra franquia iniciada por Tim Burton em 1989. Se você ainda tem coragem de admitir que prefere aquelas atrocidades, é melhor parar de ler este post. A grande qualidade do primeiro foi a série animada derivada. A do segundo foi Michele Pfeiffer desfilando com a fantasia de couro da Mulher Gato. A dos outros dois... bem, não houve qualidade nenhuma neles.
Esqueceu aqueles? Ótimo. A história de Batman no cinema recomeçou com o pé direito. E só melhorou na continuação.
Desde a direção mais do que competente de Christopher Nolan até a brilhante interpretação de Ledger como o Coringa, tudo funcionou como se espera de um filme como esse. Aliás, vale falar um pouco mais sobre Ledger. Jack Nicholson é, com perdão do trocadilho, carta fora do baralho. Ledger levou para o túmulo o Coringa definitivo. Com sua morte, aliás, não se perde apenas um personagem. Perde-se um ator que, pelo que mostrou em seu último filme, traria uma competência como há muito não se via no cinema. Para a cinessérie de Batman, ele deixou a tarefa inglória para qualquer ator superar seu coringa.
O roteiro de Batman não deixa nada a desejar aos críticos mais exigentes. Sim, estamos falando de um filme de ação e suspense, sobre um milionário que se veste como um morcego e sai para caçar bandidos à noite. Por isso, não espere um compromisso restrito com a realidade física e social. Para começo de conversa, Gotham City não existe, caso você ainda não saiba. Estamos falando de ficção e metáforas. Gotham é um pedaço da sociedade ocidental que está implodindo em uma decadência antropofágica.
Os personagens são um dos maiores trunfos do filme. De um lado, Batman é a resposta psicótica e violenta que o cidadão comum deseja mas repugna em discursos politicamente corretos. Harvey Dent é o herói obcecado que anda no fio da navalha entre o que acredita ser o certo e as concessões que acaba aceitando para alcançar seu nobre objetivo. Gordon é o herói que já aceitou todos os sacrifícios que sua busca por justiça cobra. Contra eles, além dos mafiosos, está o Coringa. Ele é a representação máxima do caos. Nolan não se entregou à obviedade de mostrar sua origem, como tentou Tim Burton (que cometeu uma atrocidade ao mostrá-lo como assassino dos pais de Bruce Wayne...). Em vez disso, o Coringa de Ledger surgiu como uma força da natureza. Um mentiroso (ele conta diversas versões para a origem de suas cicatrizes), manipulador e incrivelmente inteligente. Um personagem sedutor. Bíblico, até. Sua obsessão por Batman é inevitável. Ele só existe porque o cavaleiro das trevas existe e esta é uma perspectiva assustadora para Gotham City. Batman é o mal necessário que representa uma esperança de ordem, mas também é um ímã para todos os malucos psicóticos que, como ele, tentam dar algum sentido à sua dor. Ele é a solução e a causa de todos os problemas que a cidade enfrenta e ainda irá enfrentar.
Até aí, caso você não saiba, nenhuma novidade, além do fato de Nolan levar para as telas questões que foram exploradas à exaustão nas histórias em quadrinhos. Seu mérito, no entanto, não está na originalidade. Está na escolha das qualidades que ele transporta das páginas em quadrinhos para a frente das câmeras.
Você nunca leu nenhuma história em quadrinhos de Batman? Embora eu lamente que você não tenha tido o privilégio de apreciar obras-primas como O Cavaleiro das Trevas de Miller ou a Piada Mortal de Moore, eu asseguro que você pode assistir a Batman, o cavaleiro das trevas despreocupadamente. Claro que se você for do tipo que só assiste a filmes “cabeça”, daqueles que só se vêem em festivais, filmados em algum país do qual só você ouviu falar, em uma língua para a qual não se acha tradutores, que exigem a leitura prévia de cinco filósofos e que você só entende se já tiver visto o formato do umbigo do diretor... então Batman não é para você.
Se você gosta de ir ao cinema para se divertir, mas odeia quando os produtores e diretores subestimam sua inteligência, então pode assistir a Batman sem preocupações. Você vai se divertir. E sua inteligência terá sido respeitada.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Coisas sobre Anardeus

Anardeus não é homofóbico.
O que ele não tem é saco para agüentar enrustidos que não têm coragem de assumir sua preferência e descontam sua frustração em qualquer pobre-coitado que cruza sua linha de tiros.
Anardeus não discrimina ninguém por ser homossexual. Se ele não gosta da Ellen Degeneres, não é por ela ser lésbica. É porque ela é chata mesmo.

domingo, 29 de junho de 2008

Wall-E


Wall-E é a nova animação da Pixar. Elogiar o padrão de qualidade deles já se tornou um clichê. Fica evidente que cada passo, cada linha e bit de um filme da Pixar é minuciosamente planejado, avaliado e experimentado à exaustão. Wall-E, assim como todos os trabalhos anteriores, não deixa margem para críticas. Desde a idéia inicial até a renderização final.
A qualidade maior de Wall-E, no entanto, não se encontra na competência técnica da Pixar, mas em sua preocupação em respeitar a inteligência do espectador. E, por espectador, não me refiro apenas às crianças. Wall-E é animação para todas as idades.
Neste filme, eles escolheram beber da fonte mais revolucionária e competente da história do cinema. Charles Chaplin. Sim, Wall-E é a personificação (ou seria automatização?) do personagem vagabundo de Chaplin. Os sentimentos puros e simples do robô solitário. Sua entrega desastrosa a uma paixão inocente por EVA, a robô avançada, por quem ele não mede sacrifícios. Momentos de humor pastelão, seguidos de cenas quase poéticas.
A crítica social também está presente, com a denunciada desumanização e descaso com o meio ambiente. Chaplin era crítico ferrenho dos males da industrialização da primeira metade do século XX. Não faltou nem a ridicularização da autoridade, com os chutes na bunda do policial.
Existe um tom feliz e esperançoso no final do filme. Há quem o critique por isso. Afinal, um filme sobre a destruição do planeta não deveria terminar de uma forma mais contundente?
Minha opinião pessoal? Não. A esperança não desqualifica a denúncia.
Se você estava em dúvida, não é do tipo “chato que não gosta de desenho animado” ou mesmo o “chato que só assiste a animes”, pode ir tranqüilo... ou tranqüila. Wall-E é bom cinema.
Tanto quanto era Chaplin.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Dona Ruth Cardoso

A morte da ex-primeira dama é triste. Ela foi a última a honrar o cargo.
Você se lembra da esposa do general João Batista? E da ex do Collor, com seus pais coroneis latifundiários? E a sem-calcinha de Itamar? Ok, a última não era primeira-dama, mas valeu muitas piadas.
Temos, atualmente, a Mudamarisa. Não fala, não participa, não se manifesta.
Podemos acreditar no que quisermos sobre o governo atual e o anterior. Verdade é que a morte de Dona Ruth Cardoso é uma perda para o país.

Punisher Max

Acabei de ler o arco "Widowmaker" de Punisher (linha Max). No Brasil, Punisher está sendo publicado no mix "Marvel Max" da Panini. Ainda estão no arco de Barracuda, alguns números anteriores ao que mencionei.
Mas esses são detalhes que não interessam...
O que interessa é que Garth Ennis está deixando o título. Há quem ame, quem odeie e quem não dá a mínima para o trabalho dele. Na minha humilde opinião, Ennis está entre os grandes roteiristas de quadrinhos da atualidade. Não sei exatamente quais são suas posições políticas nem suas preferências. O que sei é que ele sabe contar uma história e que sou fã de seu trabalho desde Preacher. É uma pena que ele esteja deixando Punisher. Ele revitalizou o personagem. Seguindo o padrão da Marvel, é capaz que Punisher acabe nas mãos de algum escritor medíocre (ainda não engoli a troca de Millar por Loeb no Ultimates).
Ennis assumiu o título quando ele ainda fazia parte da linha "Marvel Knights". Quando a Marvel consolidou sua linha adulta (Max), Punisher migrou para o novo selo, ainda escrito por Garth Ennis. Alguns fãs e críticos esperavam que, com a liberdade que uma linha adulta, no estilo Vertigo, garante, Garth Ennis retomaria seus áureos tempos de Preacher.
Não sei dizer bem o que esperavam.
O que vi de Punisher Max é muito bem escrito. O humor negro diminuiu, dando mais espaço à ultra-violência e dramas pungentes. Steve Dillon não desenha mais, mas os artistas que o substituíram não fizeram feio.
Minha intenção com este post é apenas defender uma obra bem trabalhada. Não, não é uma obra-prima, mas não é a merda que já vi rotularem por ai.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Noves fora


Alguém mais viu a homenagem do nosso Ministro da Cultura ao milésimo programa do Faustão? Ele disse que tentou calcular quanto um programa semanal apresentado mil vezes correspondia em anos (eu disse ANOS). Depois de muito pensar, ele desistiu do cálculo.
Vamos ajudar nosso caro Ministro.
Sua Excelência, aqui vai a fórmula, diretamente das aulas de Didi Mocó: O ano tem 365 dias. Noves fora, cai um 7, escorregou um 9 ali atrás, cuidado com o 5 caindo...
Também desisto!

sábado, 17 de maio de 2008

Os novos inquilinos – capítulo 2

Levou um pouco mais de dois ciclos lunares até as tatuas o desenterrarem. Era realmente grande e fantástico. Th não conseguia conter sua excitação. Na verdade, nem se importava em tentar. Dançava e cuspia como um primário recém-nascido. Era o primeiro a encontrar um ser humano perfeitamente conservado.
As tatuas que trabalhavam na escavação não conseguiam erguer o ser humano sozinhas. Foi necessário contratar duas equipes extras. Th acompanhou todo o trabalho de perto e permitiu que Sh estivesse presente. Ele gostava do jovem e já o considerava seu pupilo, mesmo que não tivesse formalizado a contratação com os pais de Sh.

O fóssil de ser humano foi levado para o laboratório de Th, onde foi examinado por um ciclo solar inteiro. Durante esse tempo, a saliva de Sh alcançou a salinização necessária e ele pôde participar de sua primeira poça de discussão.
É costume que a primeira discussão de um jovem seja realizada com outros jovens como ele, para que a inexperiência não atrapalhe debates importantes que já estejam avançados. Sh ficou frustrado. Os outros jovens que debateram com ele tinham interesses ordinários. A colheita, o clima, o futuro das relações comerciais com as tatuas e os cavalhos... Quando ele cuspiu a descoberta de Th, o assunto foi rapidamente descartado. Os outros não tinham informações suficientes para falar do assunto. O debate terminou quando discutiam sobre a moda das faixas aromáticas para as pernas das fêmeas.
Mas a frustração de Th logo foi esquecida. Havia chegado o grande dia. O dia em que Sh apresentaria os resultados de sua análise do fóssil de ser humano encontrado.
Uma grande poça foi preparada. Os maiores debatedores e pesquisadores reuniram-se à sua volta. Não havia lugar para jovens, mas Sh conseguiu reservar um cantinho para Th poder sorver o que ele tinha a dizer em primeira-língua.
Th chegou com toda a majestade e arrogância a que um grande pesquisador tem direito quando vai apresentar sua maior descoberta.
O que Sh cuspiu na poça foi isso:
“O espécime desenterrado tinha quatro metros de comprimento e aproximadamente um metro e sessenta de altura. Seu corpo era formado por uma liga à base de carbono e diversos metais. Locomoviam-se sobre quatro membros cilíndricos. Dentro do fóssil, encontrei um pré-h, cuja identificação é esta.”
Quando chegavam nessa parte, os debatedores olhavam para Sh, que segurava a carteira de motorista de Arnaldo. Voltavam a sorver.
“Acredito que esta era a forma de identificação dos pré-hs e que os seres humanos os devoravam e escravizavam para propósitos que ainda não ficaram devidamente esclarecidos.”

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Ó lá balão...

Antes de tudo, devo pedir desculpas aos gatos pingados que acompanham este blog. A ausência não tem uma justificativa nobre. Foi puro desleixo.
Falemos sobre um dos assuntos mais comentados atualmente: o padre dos balões.
...
Bem... na verdade, não há muito que falar. O cara foi um completo imbecil. Enumeremos:
- Amarrou mais de mil balões nas costas para voar... sem saber voar.
- Não sabia manusear o GPS
- Não levou baterias de celular extras
- Não levou as condições meteorológicas em consideração.
- Protegeu-se do frio com folhas de alumínio.
- Não tinha autorização dos órgãos competentes.
Esse último foi o mais grave, a meu ver. E se, por uma idiotice egomaníaca, um avião acaba caindo? E eu ainda não mencionei o mal que mil balões de festa podem fazer, jogados no mar, matando tartarugas engasgadas.
Não sejamos condescendentes. Nada de eufemismos para não ofender os mortos. Se os católicos estão certos em sua visão do pós-morte, este padre deve estar, no mínimo, no purgatório, respondendo por sua burrice e falta de respeito à vida. A dele e a dos outros.

terça-feira, 25 de março de 2008

Anardeus diz:


"O idiota não faz idiotices sozinho. Tem sempre uma equipe de idiotas apoiando."

sábado, 22 de março de 2008

Os novos inquilinos - capítulo 1

Os humanos deixaram de existir há muito tempo. Pelo menos, é o que se acredita. Existe a possibilidade de terem seguido seu padrão parasitário e, ao concluírem que haviam sorvido todos os recursos do planeta, tenham construído máquinas para lançarem-se ao espaço e conquistarem outro planeta, do qual pudessem também esgotar os recursos naturais. Mas essa é uma especulação encarada por alguns como a mais pura ficção. Não foram encontradas evidências de que os humanos tivessem chegado a esse grau de evolução tecnológica. O destino final dos humanos provoca discussões acaloradas entre os pensadores. Discordam até da época em que esse desaparecimento teria ocorrido. Teria sido há duzentos mil ciclos solares, dizem uns. Outros defendem que foi há mais de um milhão. Ninguém sabe ao certo.
Sh ainda é um mediano. Não tem direito a opinar abertamente, ao redor das poças de debate. Pode sorver algumas gotas de discussão, mas sua saliva ainda não alcançou o grau correto de salinização, por isso, está proibido de cuspir qualquer argumento na poça. Segundo seu pai, não falta muito. Um ou dois ciclos, no máximo. Sh interessa-se muito pelos humanos. Assiste a todas as discussões sobre o assunto. Quando sua saliva alcançar a composição ideal, cuspirá nas poças que ele acredita que os humanos deixaram o planeta há um milhão de anos em grandes máquinas voadoras, parecidas com os casulos que eles usam para visitar os planetas mais próximos. Não acredita que os humanos foram simplesmente extintos. Diverte-se quando algum pensador exótico cospe que os humanos não desapareceram. Apenas evoluíram para o que são seus irmãos, hoje. Geralmente, esses pensadores são ridicularizados e esquecidos.

Havia um local que Sh adorava visitar. Todas as manhãs, saía voando da caverna de seu pai. Pousava sobre um cogumelo vermelho e cumprimentava Th com um abano de suas asas. Th era um velho pensador, um dos maiores especialistas em seres humanos. Sh o admirava imensamente. Th gostava do entusiasmo de Sh e, todas as manhãs, cuspia alguma informação em um chifre e o entregava ao jovem, que engolia a cusparada excitado pela curiosidade.
Cada dia era uma surpresa. Naquela manhã, Th estava diferente. Não pegou o chifre para cuspir e entregar às garras trêmulas de emoção de Sh. Em vez disso, chamou-o, balançando suas asas enrugadas. Seus assistentes formavam um círculo sobre algo. Balançando as asas furiosamente, Th informou a seus assistentes que não se aproximassem tanto. Com isso, abriram espaço e Sh pôde ver.
O objeto havia sido descoberto por uma das tatuas. A espécie de Sh não tem habilidade para escavar. As tatuas, sim, e trabalham por muito pouco.
Os olhos de Sh arregalaram-se. Estava presenciando uma das maiores descobertas dos pensadores sobre os humanos. A argila do local havia preservado o objeto.
Era um saco plástico. Dentro, apenas um cartão plastificado, com uma imagem e símbolos. Símbolos!
Th pulava, cuspia e dançava. Ele estava certo. Aquele cartão provava isso. Os seres humanos usavam símbolos e o estímulo visual para transmitir seus conhecimentos. Os assistentes sentiam repulsa pela idéia logo que a tocavam com suas línguas.
Não havia a menor possibilidade de saberem o que dizia aquele cartão. Havia uma imagem. Uma cabeça? Muito provavelmente. Ali estavam os olhos. Pequenos. O nariz, estranho. A boca. Mas por que aquela representação específica, daquela parte do corpo, estava ali, naquele cartão com símbolos estranhos, permaneceria um mistério tão grande quanto todos os outros que envolviam o estudo humano.
As tatuas diziam que havia mais alguma coisa enterrada abaixo do local onde haviam descoberto aquele cartão, mas que levaria muito mais tempo para desenterrar. Th consentiu e pediu que começassem imediatamente.
Th tocava o cartão com sua língua, tentando conseguir alguma informação, mas nada vinha. Por fim, acabou guardando-o com todos os objetos preciosos que encontrara nas escavações daquele sítio. Compartilhou tudo o que aprendera com seus assistentes e com Sh e voltou ao trabalho.
Sh voou excitado para casa.
Logo, a carteira de motorista de Arnaldo seria exposta e discutida no próximo debate e Sh sonhava com o dia em que sua saliva estaria pronta para participar das discussões.

Hipocrisia-1

Hipocrisia é inevitável. Dá para controlar, minimizar, mas não se isentar. Somos todos hipócritas. O grau. Isso é o que determina a virtude de cada um.
Eu estava assistindo a um programa no Multishow, o Reclame. Uma das apresentadoras estava conclamando os publicitários a criarem campanhas contra o aquecimento global. - Vamos lá, donos de agência, diretores de criação, diretores de filmes, diretores de arte - tem diretor pra cacete nesse ramo - redatores... vamos todos, felizes representantes da área publicitária, criar peças denunciando os malefícios do aquecimento global.
A campanha, segundo a apresentadora, foi inspirada pela palestra que Al Gore proferiu em Cannes.
Estou falando nisso porque foi essa campanha que me inspirou a escrever este tópico. Al Gore, por exemplo, mora em uma mansão que consome uma quantidade desnecessária de eletricidade e água. Os mesmo publicitários que vão produzir esses filmes – corrijam-me se eu estiver enganado - não são os mesmos que vão para seus locais de trabalho dirigindo carros com potência muito maior do que o necessário para trafegar em cidades grandes? Uns poucos até de helicóptero? Não são os mesmos que trocam de celular como quem troca de calças?
Como eu disse, somos todos uns hipócritas!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Arnaldo, o último motorista

Acabou, travou.
Arnaldo estava radiante, naquele começo de tarde. Seu sorriso amarelo – quinze anos fumando – atravessava-lhe a cara, como um teclado de piano velho. Estava recebendo as chaves. As tão aguardadas chaves. Foi nesse instante que as cenas passaram diante de seus olhos. A percepção de que realizara seu sonho. Ou parte dele.
Arnaldo trabalhava, há dois anos, em uma grande empresa de telemarketing. Havia começado como operador e, degrau por degrau, paciente e eficientemente, alcançou uma promoção para o departamento de Recursos Humanos. Lá, como assistente de projetos, fazia de tudo. Desde encomendar e-mails à agência de propaganda fornecedora até a pesquisa e contratação de palestras motivacionais. Trabalhava com prazos apertados. Sempre na correria. Por isso, tinha certeza de que seu trabalho era importante.
Já estava terminando sua pós-graduação. MBA. Estava melhorando o currículo, almejando um cargo de gerência a médio prazo. Sua vida estava detalhadamente planejada. Seus objetivos, focados. Aprendera isso em um livro de auto-ajuda para jovens que queriam evoluir.
E evolução era o que Arnaldo conseguira, naquele começo de tarde. Um de seus objetivos alcançados. Comprara um carro.
Não era um carro zero km. Tinha um ano de uso. Mesmo assim, era uma beleza. Bancos de couro, vidros elétricos, ar condicionado, trava elétrica. Tudo perfeito. Sofia, sua namorada, estava ansiosa. Já ligara para seu celular vinte vezes. Com o entupimento da rede, apenas duas tentativas tiveram sucesso.
Arnaldo virou a chave na ignição.
Era um de seus momentos. Acreditava que muitos outros viriam. Todos aqueles momentos que demonstram a evolução da pessoa. O bom emprego, a companheira bonita e amorosa, a primeira prestação do apartamento, o primeiro carro... Tudo muito bem descritinho, tanto no livro que Arnaldo deixava na cabeceira de sua cama quanto em qualquer anúncio na tevê.
Os documentos estavam no porta-luvas. Tudo direitinho. O motor roncou. Não era daqueles motores populares, um-ponto-zero. Era um dois-ponto-quatro. Engatou a primeira marcha, tirou levemente o pé da embreagem e acelerou. Atravessou a calçada da frente da loja. Não passava de um corredor entre outros carros com os preços pintados de branco nos pára-brisas. Ocupou os últimos três metros de asfalto vago.
Acabou, travou.
Naquele instante, Arnaldo conquistou um objetivo que jamais planejara: entrou para a história. Arnaldo foi o último motorista a ocupar o último pedaço de São Paulo. Houve um outro, depois dele, que ocupou aquele corredorzinho na calçada, em frente à loja. Mas não era asfalto. Por isso, a honra de ser o último motorista coube a Arnaldo.
Como todos os seus colegas motoristas, depois de dois dias dormindo dentro do veículo, Arnaldo acabou percebendo que não sairia do lugar.
Quis reaver seu dinheiro. Voltou à loja. Teve de andar sobre os carros que estavam na calçada.
- Pois não, senhor? – atendeu a vendedora.
- Quero devolver o carro e pegar meu dinheiro.
- Algum problema com o carro?
- Claro. Não consigo sair daqui da frente da loja há dois dias!
- Mas essa imobilidade, por acaso, é provocada por algum defeito do carro?
- Como é? – Arnaldo coçava a cabeça. Não a lavava há dois dias.
- Eu quero saber se existe algum problema com o carro. – O tom de voz da vendedora não se alterava.
- Não... quero dizer... não sei. Não andei nada com ele...
A discussão tomou mais umas seis horas da vida de Arnaldo. Saiu da loja ainda mais emputecido e descabelado. E não conseguiu reaver seu dinheiro.
Foi para casa como todos os outros colegas motoristas: andando sobre os capôs dos carros parados.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Anardeus sabe o que se esconde no coração das pessoas.

Enquanto isso, em uma palestra:

- (...) porque, nesse mundo corporativo globalizado, o upgrade constante vai estar sempre em up. Se o profissional pretende atingir seu target com eficiência, o mainstream tem que ser sempre ali, ok? Sempre ready. O blue ship... Sim, você tem uma pergunta?








-Você vive com vontade de dar a bunda, né não?

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Campanhas sociais de Anardeus - 1

Suicídio Consciente

Aos suicidas potenciais: já que estão prestando dois favores à humanidade: um, retirar-se da existência e dois, evitar, com isso, que seus genes sejam repassados e quiçá perpetuados, cabe dizer que é mais do que justo que essa contribuição seja feita em sua plenitude.

Suicídios no metrô, em horário de pico, atrapalham os usuários. Trabalhadores cansados que só querem chegar em casa para encher o rabo de cerveja, assistir à novela e espancar a esposa não precisam de mais essa preocupação.

Suicídios em carros, andando na contramão, a 150 km/h, tentando acertar qualquer veículo também não são produtivos. E se, ao invés de um caminhão, você acertar um Polo com o filho de um juiz que está indo passar duas semanas de ócio no Guarujá?

As clássicas, atirar-se do alto de um prédio, enfiar a cabeça no forno e ligar o gás e tiro nos miolos devem ser precedidos das medidas cabíveis de segurança.

No mais... boa sorte.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

A hora de Josué

A pinga desceu queimando. Caiu no estômago e corroeu mais um bocado da úlcera, mas Josué não sentia. Não distinguia nenhuma sensação. A fome não apertava, a dor não latejava, o prazer não saciava. A fome saciava, a dor apertava e o prazer latejava. Estava bêbado. As mãos suavam. A testa suava. Seu acordeom suava. À sua esquerda Barnabás castigava o bumbo. À direita, Soarez com um triângulo.
O boteco estava cheio, mas as portas estavam abaixadas. Faziam isso para evitar as reclamações dos vizinhos. Todos que permaneciam no bar, àquela hora, eram fregueses constantes. Fiéis.
Barnabás deu três batidas no bumbo para anunciar a próxima música. Josué respirou fundo e comprimiu o instrumento, arrancando um som alegre e malicioso.
Os homens bebiam cerveja e pinga e fumavam cigarros baratos, comprados de camelôs. As mulheres dançavam libidinosas, com coxas e barrigas à mostra.
A música acabou. Josué tomou outro gole. Longo, entorpecente. Olhou o relógio da parede. Não sabia precisar a hora, mas o ponteiro menor havia passado do número 12. Era tudo o que ele precisava saber.
Barnabás bateu o sinal para a próxima música. Josué começou a tocar. Seus dois companheiros não acompanharam, de início. Era uma música que não conheciam. Com esforço, pegaram o ritmo. Ela era forte, agressiva. Barnabás começou a torturar o bumbo com crueldade e força. O triângulo tremia na mão de Soarez.
Os homens e mulheres dançaram. Excitaram-se. Alguns até mesmo se morderam.
Josué suava. Seu rosto transfigurado. Os olhos arregalados, os lábios sem cor, comprimidos, os dentes trincados.
Quando parecia que não havia como incendiar mais a música, Josué começou a cantar.
Sua voz estava rasgada, corrompida pelo álcool e pelo ódio.
Josué estava com muito ódio naquela noite. Tudo em sua vida ia mal. A mulher que deixara no sertão, ele soube por carta, havia se casado com um fazendeiro e mudado para o pantanal, levando seus três filhos. A mulher que arranjara na cidade, essa ele tinha flagrado naquela tarde, esfregando-se com um vizinho seu. Ele matara os dois e, enquanto tocava naquele boteco, os corpos provavelmente estariam começando a gelar e seriam encontrados pelos dois filhos que a moça tinha de um casamento anterior.
Josué sabia que não podia tocar aquela música depois da meia-noite. Ele havia sido avisado. Fora na noite em que pedira os favores do diabo, numa encruzilhada, oferecendo farofa, pinga e fumo.
Mas ele cantou. Queria acabar com tudo e todos.
O tinhoso havia avisado. Aquela música era especial. Transformaria Josué no rei do baião. Mas não depois da meia-noite.
Josué rosnou a poesia. Ela falava de cavalos com narinas em fogo.
O ar do boteco esquentou e do bumbo de Barnabás saía o som de cascos castigando a caatinga.
A poesia falava de bodes comedores de tripas e urubus comedores de olhos.
Os intestinos dos dançarinos dobraram e doeram e eles choraram.
Josué cantou sobre os cangaceiros mortos que vagavam como fantasmas vingadores de injustiças que sofreram e provocaram.
Quatro cavaleiros atravessaram a porta e não sobrou viva alma no boteco. Vestiam calças de couro e chapéus de cangaceiro. Nas mãos, rifles que cuspiam o fogo do inferno. Josué sorriu quando percebeu que sua miséria acabaria. Chorou e implorou quando percebeu que ela estava só começando.

No dia seguinte, o massacre foi anunciado como mais uma chacina. Não havia sinal dos cavaleiros com roupas de cangaceiros. Josué não estava entre os mortos. Apenas seu acordeom. Até hoje, ele é procurado pelo assassinato da mulher e de seu amante.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Evolução - 4

Não, nós não somos a maravilha máxima da criação. O mundo não está ai para nos servir. Os recursos naturais não estão ai para serem esgotados por nossa gula. As plantas não têm a única função de nos alimentar e nos servir madeira para construirmos casas e palitos de dentes. Os animais não existem apenas para nos divertirem, seja realizando truques em circos, seja tendo suas peles arrancadas para fazermos casacos para as dondocas.
Quer você tenha alguma crença religiosa ou não, tenha a certeza de que tem a obrigação de zelar por este mundo e pelas criaturas que o habitam.

Anardeus e as teorias conspiratórias

Anardeus vive em um vórtice cármico/cósmico. Mesmo sem fazer a menor questão, acaba tendo contato com provas incontestáveis das teorias conspiratórias mais importantes da humanidade.
Para Anardeus, não existe esse lance de acreditar. Ele SABE das coisas. Mas não dá muita bola...
O homem nunca pisou na lua. As imagens mostradas pela TV não passaram de uma encenação, filmada em algum canto muito bem escondido.

- Achei esses bagulhos lá no Acre.

Anardeus também encontrou, num acaso pra lá de improvável, o crânio de Ulysses Guimarães, o corpo embalsamado de Paul McCartney, um pedaço do intestino do ET de Varginha e fez uma jam session com o Elvis numa boate da rua Aurora.
- E o Rio Branco é uma cidade cenográfica. A galera da Globo vive fazendo festa do cabide lá.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Histórias de Anardeus

Aos 15 anos, Anardeus ingressou em uma comunidade chamada “Voluntários”. O grupo tinha esse nome por defender a extinção voluntária da humanidade. Para tanto, defendiam a idéia de se parar completamente a reprodução.



- A idéia parecia boinha...



Para evitar a concepção de seres humanos, as mulheres valiam-se de doses cavalares de anticoncepcionais, tomadas religiosamente aos sábados. Os homens vestiam duas camisinhas.
Embora todos fossem pessoas com grau de instrução elevado, principalmente seu líder, que era formado em publicidade, desconheciam dois fatos: 1 - Duas camisinhas não protegem mais. Estouram. 2 - Anticoncepcionais não devem ser tomados uma vez por semana. Não importa a dose.
Quando os primeiros rebentos começaram a chorar e encher o saco, o líder acabou deposto e, em seu lugar, ascendeu um dos integrantes mais radicais, a exemplo do que acontece na maioria das sociedades em crise.

- Isso vai dar merda...

A idéia defendida por esse novo líder foi darem um passo mais agressivo na defesa da extinção voluntária da humanidade: suicídio em massa.
No dia escolhido, copinhos de papel com uma cápsula de cianureto foram distribuídos a todos, até às crianças e, num gesto dramático, todos engoliram suas cápsulas e morreram. Inclusive o novo líder.
Anardeus recusou-se a tomar sua dose.

- Aí já é viadagem!

Como único sobrevivente, Anardeus remodelou a filosofia dos voluntários. Ele ainda defende a extinção voluntária dos seres humanos, mas acredita que, enquanto continuar existindo, a humanidade deve simplificar a vida moderna.

- Só não mexe no meu MP3.

Anardeus defende irrestritamente os animais e as plantas. Prega a extinção dos governos, das religiões e dos desenhos animados em 3D.

- Menos o Shrek.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Catálogo da fauna do transporte público paulista - 3


Preguiça Entreira (entrandum et empacandum) - Uma variação da Preguiça Porteira. Enquanto seus primos habitam principalmente os ônibus, a Preguiça Entreira é quase uma exclusividade dos metrôs. Costumam se camuflar como representantes menos incômodos da fauna do transporte público, mas são facilmente perceptíveis quando as portas abrem para a entrada da manada. É aquele animal que dá um passo para entrar pela porta, estaciona de forma a barrar a entrada dos demais usuários e assume uma expressão de completa estupidez, tentando decidir para onde ir, em seguida, sem nunca escolher a alternativa óbvia de ocupar os corredores, por mais vazios que estejam.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Pensamentos de Anardeus - 1



Anardeus odeia os grafiteiros que têm síndrome de Pokemon:

Só sabem pintar o próprio nome.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

A alma salva de Anardeus (Ele sempre aperta o crtl+S)


Anardeus

Anardeus acredita que o mundo ainda tem solução. Mas precisará de alguns ajustes:
Lista de Anardeus para os problemas do mundo:
1 – Reduzir a população mundial para um terço do número atual. Claro que ele prefere que a redução seja voluntária. Para isso, as pessoas deveriam pensar duas vezes antes de fazer um filho. Pensar duas vezes é o suficiente para que qualquer ser humano normal desista da idéia de se reproduzir.
2 – Retirar das ruas 90% da frota de carros. Anardeus não é um defensor do transporte público. Para ele, os meios de transporte recomendados são bicicleta e cavalos.
3 – Extinção das armas de fogo. Anardeus defende que todos devem portar armas brancas, igualando poderes. A equação é simples. Por exemplo: se você disser alguma besteira a alguém, esse alguém pode tirar um machado de dentro do paletó e rachar-lhe a cabeça. Mas ele não fará isso porque não sabe que arma você está portando embaixo da sua jaqueta, nem se você sabe manejá-la melhor do que ele maneja seu machado. Você sabe que ele tem alguma arma debaixo do paletó, mas não sabe qual nem como ele a maneja. Portanto, você não falará besteira, para não ter que descobrir, nem ele tirará o machado, porque ambos foram cordiais um com o outro. Paz na Terra.
(Sim, ele desconsiderou a estupidez inerente ao homem, que derruba todo esse tópico. Mas a verdade é que Anardeus adora armas brancas).
4 – Anardeus não dá a mínima para raízes de árvores que destroem calçadas. Para ele, calçadas foram feitas pra isso mesmo. Lugar de asfalto liso e bem-feito é na rua, de onde já terá saído 90% da frota de carros.