Segunda metade da década de 80. Ao reconhecer a inestimável influência que teria sofrido da obra Kozure Okami, de Kazuo Koike e Goseki Kojima, Frank Miller inspirou os editores da First Comics a trazer esta obra e batizá-la como Lone Wolf and Cub.
Ainda engatinhando nesse mercado, a First, como tantas outras editoras americanas fizeram nos anos seguintes, deu início a uma desastrada tentativa de adaptar os mangás (como são conhecidos os quadrinhos japoneses) ao padrão norte-americano, ou seja, revistas mensais, com vinte e poucas páginas, no formato 17 x 26 cm. Assim, Kozure Okami foi retalhada em 45 volumes que não chegaram nem perto do final da história.
Originalmente, a obra tem cerca de 8500 páginas. O mesmo absurdo aconteceu com outros trabalhos japoneses, como Akira, que recebeu cores computadorizadas. No Brasil, a Cedibra foi a primeira editora a publicar Lobo Solitário. Seguiu o padrão norte-americano, incluindo as capas ilustradas por Frank Miller. Não passou da nona edição. Não se pode culpar a obra. A editora foi à falência. O mesmo aconteceu com a First Comics, que teria mesmo chegado a ser a terceira maior editora de super-heróis norte-americana. Marvel e DC, obviamente, eram as primeiras.
A Sampa Editorial chegou a assumir a publicação, imprimindo as revistas num formato mais próximo ao do original, e foi a que chegou mais longe com a série. Mesmo assim, ainda ficou distante da conclusão.
No final da década de 90, a Dark Horse voltou a publicar Lone Wolf and Cub. Dessa vez, no formato original japonês (segundo eles disseram; eu mesmo nunca pude conferir), os 28 volumes, ainda que com a inversão de leitura ocidental, foram enfim publicados. A Panini publicou por aqui, finalmente. Assim, quase 30 anos depois de ter sido publicada em seu país de origem, Kozure Okami finalmente pôde ser apreciada pelo público brasileiro.
Espero que você tenha sido um desses apreciadores.
As páginas de mangás publicadas mensalmente apresentam números irreais para nossa cultura. Pasmem, mas ainda hoje ouço comentários ignorantes sobre a leitura de histórias em quadrinhos.
Concordo que há muito lixo sendo publicado. Mas não existe nenhum lixo entre os filmes que atolam nossos cinemas ou nas estantes abarrotadas de livros, muito menos nas prateleiras de CDs?
Mas isso é uma discussão para outro post. Agora, estamos falando de Lobo Solitário.
Itto Ogami era o executor oficial do shogun, ou seja, uma das peças da tríade criada pelo governo para controlar os senhores feudais. Os outros dois grupos eram os espiões e os assassinos, esses chefiados por Retsudo Yagyu. Após cair, vítima de uma conspiração dos Yagyu, Ogami torna-se um ronin, um samurai sem mestre (um senhor, um empregador, não um professor) e parte com seu filho recém-nascido, Daigoro, para uma saga de vingança. Torna-se um assassino de aluguel, no intuito de acumular dinheiro e, principalmente, igualar seu espírito ao de seus inimigos.
Este é o argumento principal da série, que leva o personagem principal a percorrer um caminho sangrento que é usado pelos autores para retratar o Japão medieval, seus costumes e sua história.
Os personagens principais são inspirados em personagens reais, mas não são retratos fiéis.
A obra é simplesmente fantástica. Nenhum diálogo é apressado, nenhuma ação corre mais rápido do que o necessário, só para economizar tinta. Existem inúmeros quadros cuja única função é apresentar cenários e essa apresentação pode se estender por várias páginas. Tudo é feito para que o leitor possa apreciar a série em todos os seus momentos, sejam os mais poéticos, sejam os mais agitados – como nas cenas de batalha, em que a tinta parece querer sair do papel com o sangue que, embora representado pelo preto do nanquim, você tem certeza de que é vermelho e que cheira a ferro.
Lobo Solitário é obra indispensável para quem se diz fã de histórias em quadrinhos. Muito boa para quem ainda acredita que HQ é uma exclusividade infantil ou de pessoas de pouca inteligência.
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
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