quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Watchmen


Histórias em quadrinhos são uma forma de literatura rápida e popular. Por aliar a complexidade do texto escrito à atrativa agilidade dos desenhos, os quadrinhos são ampla e facilmente consumidos e engana-se quem pensa que é uma exclusividade infantil. Já foi, é verdade. Tanto que se tornou alvo de grupos conservadores e outros neuróticos em busca de culpados para a irracionalidade de alguns seres humanos.
Quadrinhos de super-heróis são ainda mais populares, principalmente do lado de cá do Atlântico. Tanto que chegamos a acreditar que existiram desde os primórdios dessa forma de arte. Não foi assim. Nos primeiros quadrinhos, imperava o humor. Tanto que, até hoje, são chamados de comics nos EUA. Até os atuais, muitas vezes violentos e sombrios.
Assim, heróis mascarados com superpoderes povoam e sobrevoam centenas de publicações. A maioria – e digo isso para horror dos fãs xiitas – tem baixa qualidade literária, ou mesmo nenhuma. Isso sem mencionar as que nem qualidade visual possuem.
Como todo mercado inflado, pipocam descontroladamente as porcarias e, vez por outra, pululam algumas obras-primas. É assim no Japão, cuja produção de páginas de quadrinhos por mês deixa os EUA no chinelo. De lá saíram maravilhas como Lobo Solitário, Vagabond, Akira, entre outras, mas a maioria só serve para ser reciclada na próxima coleta de papel.
Dos EUA vieram, em meio à produção de quadrinhos em geral e, mais especificamente, dos quadrinhos de super-heróis, trabalhos que merecem ser lembrados como obras de arte. Entre eles, o que mais se destaca certamente é Watchmen.
Watchmen foi escrito por Alan Moore, um dos mais importantes roteiristas do mercado. Vale lembrar que ele não é americano. É inglês. Os confetes que jogo sobre ele não são desmerecidos. Alan Moore foi responsável por V de vingança, Piada mortal, Liga Extraordinária, Monstro do pântano, entre tantas outras obras. Em determinado momento, seu nome funcionava como um toque de Midas. Se tinha sido escrito por Alan Moore, só podia ser bom... Claro que isso é um dos tantos exageros de mercado. Mesmo o mais genial dos autores escorrega, de vez em quando.
Mas não é sobre escorregões que quero falar. É sobre sua obra-prima Watchmen. E, na verdade, nem quero falar tanto. Em qualquer site especializado em quadrinhos (e até em alguns que não são) você vai encontrar resenhas mais bem escritas e até mais coerentes. Algumas, provavelmente, enriquecerão seus elogios a Watchmen com paralelos literários e filosóficos. Não tenho vocação, cultura e, sinceramente, paciência para tentar essa verborragia.
Watchmen é uma saga. No significado mais abrangente do termo. Tem tantas camadas de leitura que pode ser apreciado várias vezes, cada qual por um prisma completamente novo. A autópsia psicológica que Alan Moore faz de seus personagens é assustadoramente real e perturbadora. Todo super-herói, a exemplo do herói clássico, tem seu ponto fraco, sua tragédia pessoal e sua mola impulsionadora. Os heróis de Watchmen não fogem à regra, mas suas histórias pessoais são tão reais que você poderia acreditar que eles existiram. Suas fraquezas são palpáveis.
Assusta-me saber que estão filmando uma versão para o cinema. Tenho certeza de que muita gente vai assistir ao filme e achar que conhece a obra, mas nunca a apreciará em sua plenitude. Aconteceu com os outros trabalhos de Alan Moore. Digam o que quiserem – ele está certo em dizer que não aprova e nem vê os filmes inspirados em seus quadrinhos.
Devo parar por aqui, pois tudo o que eu disser pode estragar sua leitura. Sim, porque você deve ler Watchmen. Mesmo que nunca tenha lido histórias em quadrinhos na vida, leia Watchmen. Mesmo que não goste de super-heróis. Se, uma vez na vida, você tiver de ler uma história de super-heróis, que seja Watchmen. Você não vai se arrepender.

Um comentário:

Anônimo disse...

Assino em baixo.
Já li quatro vezes, mas ñ cheguei nem perto de enjoar; muito pelo contrário, cada vez mais tenho ânsias de reler.
É uma das melhores coisas q já li na vida.