quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Amor próprio


Engraçada aquela frase: “para amar o outro, deve-se, primeiro, amar a si próprio”.
Só fica difícil entender o que significa amar a si próprio. Principalmente se ninguém consegue me explicar muito bem o que realmente significa amar o outro.
Amar a si próprio significa ter vaidade? Significa pagar cinco cirurgias plásticas em dois anos, porque aquela barriguinha, que agora está lipoaspirada ou aquele peitinho que agora está siliconado, te impediam? Vamos considerar que sim. Que você só pode se amar se seus padrões físicos te agradarem. Concluímos, então, que você só pode amar quem tiver padrões físicos parecidos com os seus. Não? Você pode amar uma pessoa, independente das supostas falhas em sua aparência? Então, como você não conseguia se amar quando tinha suas próprias supostas falhas na aparência?
– Essa menina não se cuida – diz a perua de plantão. – Está sempre mal arrumada, com o cabelo descuidado... e olha aquelas unhas! Ela não tem o mínimo de amor-próprio!
Então, vou considerar que o alvo da perua não pode amar ninguém, afinal, segundo algum padrão maluco que algum idiota criou, a menina mal cuidada não se ama. Que merda é essa? E você pensa que isso é incomum? Tem pai e mãe que fala isso sobre os filhos, que simplesmente estão passando por uma fase mais do que comum na adolescência! Aliás, quero puxar um gancho sobre isso. No Brasil, aumentaram as cirurgias plásticas entre adolescentes. Noventa por cento são meninas. Meninas é o termo mais correto. Não consigo chamar de outra coisa, senão imbecil, a mãe que apóia a filha de 15 anos a fazer um implante de silicone! Mas esse é um assunto para um outro post, se eu tiver estômago para tanto. Estava falando sobre amor próprio...
Vão dizer que persigo autores e livros de auto-ajuda. Bem... quanto a isso estão certos.
Você já reparou como livros de auto-ajuda engrandecem o amor próprio? Ao ponto de criar megalomaníacos! Os ávidos consumidores dessa cultura são tomados pela ilusão nada incomum de que são o centro do universo. Um exército de narcisos, acotovelando-se por um espaço à beira do lago, onde possam ver seus rostos maravilhosos. E dá-lhe abrir mão da ética... afinal, se me amo e sou o centro do universo, tudo vale para conseguir meu sucesso.
Tudo fica no eu, eu, eu, eu, eu, eu... Sem a menor vergonha. Afinal, modéstia é para os que não se amam, não é?
E, me amando, posso amar os outros. Para quê? Você não se basta? Já não é o centro do universo? As galáxias e planetas circulam ao seu redor, para lhe dar prazer e reconhecimento.

Esse papo de amor próprio é uma bobagem infinita, tão grande quanto o universo que você pensa que está ai para seu prazer. Você já nasceu com todo o amor próprio que precisa. Chama-se individualidade, instinto de auto-preservação. Não precisa de um livrinho ou um guruzinho dizendo para você inchar ainda mais esse seu ego de macaco. Antes de amar tanto a si mesmo, espero que você aprenda primeiro a amar o outro. Isso é o que falta. Isso é o que você veio ao mundo sem saber e que vai ter que aprender.

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